quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Todos falam dela, mas poucos sabem o que é!


“É possível diagnosticar precocemente a Dislexia e fazê-lo de forma precisa, a fim de estabelecer intervenções eficazes para que as crianças disléxicas cheguem à idade adulta, sentindo-se confiantes e capazes de atingir o seu potencial. (…) O maior obstáculo a que uma criança disléxica atinja o seu potencial e siga os seus sonhos é a generalizada ignorância acerca da verdadeira natureza da Dislexia.”

Shaywitz (2008, p. 101)

Sabe-se que, em Portugal, há ainda muito a fazer pela sensibilização e capacitação dos professores e pais acerca da Dislexia. Os especialistas da intervenção precoce das Unidades de Desenvolvimento ligadas à saúde e à educação, pouco valorizam o reconhecimento dos sinais precoces da Dislexia: atraso na aquisição da linguagem falada, história familiar com o mesmo atraso, dificuldades articulatórias, linguagem “abebezada” após os 5 anos, etc. Estes factos são reveladores de perdas na consciência fonológica desta criança, que mais tarde, na escola, levam-na a sucessivos fracassos na aprendizagem da leitura e da escrita.

É nos dado a conhecer, por Shaywitz (2008, p. 284), que a realidade actual americana, através do Instituto Nacional de Saúde Infantil e do Desenvolvimento Humano, tende a desenvolver, cada vez mais, programas de prevenção e de intervenção precoce, cuja eficácia está cientificamente comprovada. Esta medida poderia servir de exemplo à política portuguesa para a saúde e educação, já que o número de disléxicos no Sistema Educativo Português tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Através desta medida, o sistema público de educação reduziria, significativamente, o número de crianças que necessitariam de serviços de Educação Especial nos níveis de ensino mais avançados.

No campo da intervenção precoce, a realidade portuguesa difere muito dos parâmetros científicos levados a cabo pelos profissionais americanos.

Outra questão que se torna pertinente é a da investigação e implementação de Modelos de Programas de Intervenção Especializada para serem desenvolvidos com os indivíduos disléxicos nas escolas portuguesas, de forma sistemática e científica. Enquanto investigadores e professores americanos elaboram e executam nas escolas, de todo o país, Programas de Intervenção na Dislexia (alguns deles disponibilizados, gratuitamente, na Web), os investigadores e professores portugueses ainda deparam-se com dificuldades ao nível da utilização de escassos instrumentos de avaliação e de diagnóstico, muitos deles adaptados, pouco rigorosos e fidedignos à nossa Língua. Esta é, apenas, uma visão crítica de quem vive o dia-a-dia com a Dislexia, nos últimos dez anos e reconhece que a “sorte” não pode ser o principal norteador desta “batalha.”

Em suma, temos de lutar para que milhares de disléxicos, deixem de ser encarados, por todo o sistema educativo, como os “estúpidos ou incapazes”. Os disléxicos pensam de forma diferente e é através de uma pedagogia diferenciada que demonstraremos o respeito à sua forma de pensar. Cabe a nós, professores e pais, acreditar nas suas capacidades, ajudá-los a desenvolver os seus talentos e nunca, mas nunca, deixá-los desistirem dos seus sonhos, pois, afinal, a Dislexia pode ser considerada um dom.

Cirila Cardoso

Docente da Educação Especial




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