segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Reportagem sobre Dislexia

Dislexia e Reeducação

Após o descanso das férias escolares, estamos de volta para o início de mais um ano lectivo.

Como é habitual, o horário de funcionamento do gabinete será de 2ª a 6ª feira, das 10h às 20h e aos sábados, das 10h às 13h (conforme marcações realizadas por telefone ou presencialmente).

A nossa equipa estará composta por Cirila Braga Cardoso (Docente da Educação Especial-especialista em Dislexia), Dra. Cecília Almeida (Psicóloga Educacional/Clínica), Marta Pereira (Professora Licenciada do 1º e 2º ciclos-variante Português/Francês), Irina Domina (Professora Licenciada do 2º/3º ciclos e Secundário- Matemática e Físico-Química), Conceição Valido (Professora Licenciada do 2º, 3º ciclos e Secundário- Português-Línguas Estrangeiras), entre outras profissionais da área da intervenção na Dislexia.

Estamos, ainda, presentes no seguinte endereço do Facebook:

http://www.facebook.com/?ref=home#!/pages/Ponto-e-Virgula-Apoio-Pedagogico/351657503618


Reeducação do aluno disléxico

A reeducação da criança disléxica é uma tarefa multidisciplinar da qual fazem parte as pessoas do ambiente familiar, escolar e do meio envolvente da criança, constituindo-se como elementos importantes do processo. Cabe aos técnicos e aos pais assegurarem um ambiente calmo, compreensivo e colaborante, que permita exercitar e solidificar os conhecimentos adquiridos. É também na Escola, que através das atitudes de professores e alunos, será ou não possível o sucesso de qualquer intervenção.

A desmotivação por insucessos repetidos, sentimentos de inferioridade, timidez, baixa auto-estima, pouca capacidade de atenção e concentração dos disléxicos, tornam a intervenção uma tarefa difícil. A família, a escola e a sociedade em geral têm aqui um papel decisivo: não deverão exigir nem impor metas complicadas, adoptando sempre uma postura de compreensão para com a criança.

Relativamente ao prognóstico, a reeducação de um aluno disléxico é possível e passada a primeira etapa do processo, deve-se colocar a ênfase nos pontos fortes, isto é, nas fortes capacidades da criança (potencial). O disléxico possui aptidões cognitivas de nível superior, nomeadamente no campo do pensamento, do raciocínio, da análise, da conceptualização, da criação, da empatia e da imaginação.


Estratégias para o acompanhamento do Disléxico

1. O professor deverá conhecer bem o aluno: as suas características pessoais, capacidades, autonomia, de modo a que haja um ponto de partida para a reestruturação dos objectivos, métodos e estratégias de ensino;

2. O professor deverá indicar ao aluno os objectivos a atingir para que os seus esforços sejam orientados numa determinada direcção;

3. Manter o ensino regular, pois o Currículo Escolar Próprio só deve ser adoptado se o(a) aluno(a) não atingir os objectivos do ensino regular;

4. Na aula de apoio individual deverá ler muito em voz alta para tentar superar as dificuldades;

5. Incidir sobre a audição (recorrendo-se ao método fonético para ensinar);

6. Recorrer a descrições relacionadas com a experiência e conhecimentos da criança;

7. Promover a expressão de opiniões pessoais sobre determinados temas;

8. Utilizar frases curtas e, sempre que possível, fornecer pistas visuais (gestos, material escrito, leitura em voz alta, instruções verbais, descrições verbais, vocabulário familiar) - para não sobrecarregar a memória;

9. Conversar sobre imagens e desenhos antes de se passar aos textos;

10. Trabalhar, sempre que possível, as noções temporais (passado, presente e futuro) com recurso a experiências pessoais da criança;

11. Evitar situações em que a criança tenha de ler em voz alta diante dos demais companheiros;

12. Sentar o aluno nas cadeiras da frente, longe da janela e ao lado de um colega com boa capacidade de concentração;

13. Procurar estar mais próximo da criança e perceber se existem dúvidas; prestar uma atenção bastante individualizada sugerindo que pergunte sempre que não perceba;

14. Dividir as tarefas em partes e verificar, passo a passo, se as etapas estão compreendidas;

15. Toda a informação nova deverá ser repetida mais do que uma vez;

16. Acompanhar a criança na leitura, no sentido de controlar a velocidade de leitura (deverá ser mais lento);

17. Disponibilizar tempo suficiente para organizar os pensamentos, passar coisas do quadro e terminar os trabalhos;

18. Recorrer às fichas de trabalho para consolidação de conhecimentos;

19. Utilizar acetatos e/ou escrever no quadro;

20. Fomentar a apresentação de trabalhos pessoais e imaginativos;

21. Usar o computador, se possível, no sentido de possibilitar o tratamento de textos com corrector ortográfico;

22. Utilizar a calculadora;

23. Usar o gravador, para permitir e facilitar o estudo pós aula;

24. Facilitar textos com janelas (reduz o campo de interferência visual).


O aluno disléxico tem direito a:


  • Aulas de Apoio Individual;
  • Condições Especiais de Avaliação:

* Dispor de mais tempo para a realização de testes escritos;

* Realizar testes adaptados (mais curtos, de resposta múltipla, linguagem simples, perguntas directas);

* Sempre que possível substituir o teste escrito pelo oral;

  • Condições Especiais de Exame:

Podem usufruir de tolerância de tempo suplementar relativamente ao tempo regulamentar da prova, podem ainda beneficiar de condições especiais de correcção das provas.



Citando Shaywitz (2003), “Para muitas crianças, a intervenção representa a diferença entre o sucesso e insucesso académico, entre um sentido de autoconfiança e uma permanente sensação de derrota.”


quinta-feira, 12 de agosto de 2010





Todos falam dela, mas poucos sabem o que é!


“É possível diagnosticar precocemente a Dislexia e fazê-lo de forma precisa, a fim de estabelecer intervenções eficazes para que as crianças disléxicas cheguem à idade adulta, sentindo-se confiantes e capazes de atingir o seu potencial. (…) O maior obstáculo a que uma criança disléxica atinja o seu potencial e siga os seus sonhos é a generalizada ignorância acerca da verdadeira natureza da Dislexia.”

Shaywitz (2008, p. 101)

Sabe-se que, em Portugal, há ainda muito a fazer pela sensibilização e capacitação dos professores e pais acerca da Dislexia. Os especialistas da intervenção precoce das Unidades de Desenvolvimento ligadas à saúde e à educação, pouco valorizam o reconhecimento dos sinais precoces da Dislexia: atraso na aquisição da linguagem falada, história familiar com o mesmo atraso, dificuldades articulatórias, linguagem “abebezada” após os 5 anos, etc. Estes factos são reveladores de perdas na consciência fonológica desta criança, que mais tarde, na escola, levam-na a sucessivos fracassos na aprendizagem da leitura e da escrita.

É nos dado a conhecer, por Shaywitz (2008, p. 284), que a realidade actual americana, através do Instituto Nacional de Saúde Infantil e do Desenvolvimento Humano, tende a desenvolver, cada vez mais, programas de prevenção e de intervenção precoce, cuja eficácia está cientificamente comprovada. Esta medida poderia servir de exemplo à política portuguesa para a saúde e educação, já que o número de disléxicos no Sistema Educativo Português tem aumentado consideravelmente nos últimos anos. Através desta medida, o sistema público de educação reduziria, significativamente, o número de crianças que necessitariam de serviços de Educação Especial nos níveis de ensino mais avançados.

No campo da intervenção precoce, a realidade portuguesa difere muito dos parâmetros científicos levados a cabo pelos profissionais americanos.

Outra questão que se torna pertinente é a da investigação e implementação de Modelos de Programas de Intervenção Especializada para serem desenvolvidos com os indivíduos disléxicos nas escolas portuguesas, de forma sistemática e científica. Enquanto investigadores e professores americanos elaboram e executam nas escolas, de todo o país, Programas de Intervenção na Dislexia (alguns deles disponibilizados, gratuitamente, na Web), os investigadores e professores portugueses ainda deparam-se com dificuldades ao nível da utilização de escassos instrumentos de avaliação e de diagnóstico, muitos deles adaptados, pouco rigorosos e fidedignos à nossa Língua. Esta é, apenas, uma visão crítica de quem vive o dia-a-dia com a Dislexia, nos últimos dez anos e reconhece que a “sorte” não pode ser o principal norteador desta “batalha.”

Em suma, temos de lutar para que milhares de disléxicos, deixem de ser encarados, por todo o sistema educativo, como os “estúpidos ou incapazes”. Os disléxicos pensam de forma diferente e é através de uma pedagogia diferenciada que demonstraremos o respeito à sua forma de pensar. Cabe a nós, professores e pais, acreditar nas suas capacidades, ajudá-los a desenvolver os seus talentos e nunca, mas nunca, deixá-los desistirem dos seus sonhos, pois, afinal, a Dislexia pode ser considerada um dom.

Cirila Cardoso

Docente da Educação Especial